19.2.09

Poesia Masculina

A poesia masculina é, das formas da poesia,
sem dúvida a mais cretina
Louvam-se flores, raios de sol, borboletas
Quando tudo sobre o que se quer falar é da vagina

O poeta celibatário, esse triste animal solitário
É de todos o que melhor entende a questão
Sabendo que seu simbolismo é imaginário
Inventa tudo o que não pode tocar com as mãos

Segue o Homo poeticus, inventando
Fala de uvas, de rosas, de um jardim inteiro
Queria era falar do que pensa, se masturbando
Mas teme que os outros o chamem de "poeteiro"

O poema do homem assume uma forma fálica
Travestida em palavras, sons e signos coloridos
Frases preenchidas pela devassidão estásica
Disfarçando os desejos do poeta, reprimidos

O pulso da poesia masculina, seu coração
É gerado em pensamentos sujos e febris
Pois no murmúrio do poeta à Musa, na oração
Ela é a fêmea que ele sempre quis

Soneto másculo começa na bolsa escrotal
Espalha-se pela próstata, vai até à glande
Manifesta-se eloquente e firme no genital
Até perceber o corpo peniano ficando grande

Mas a tudo isso dão-se outros nomes, outras categorias
Ilusões artísticas emoldurando a verdade
Como se fosse possível cobrir a testosterona com alegorias
Distorções práticas abandonando a vontade

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