8.11.08

Os Senhores do Deserto

Vagam os senhores do Deserto
Motores e metais
Pólvora que ceifa vidas
Cavaleiros bêbados
Anciões do asfalto...

Num círculo ao redor do Fogo
Canções e venenos
Distração que oculta o chacal
Uivando faminto
Guardando o silêncio

Atiram os demônios do Inferno
Gritaria e sangue
Celebração que desdenha o viver
Explodindo animais
Ensangüentando o vento

Rastejam as víboras do Pó
Desejos e gasolina
Alucinação que ludibria o pensar
Rasgando o som
Acelerando o tempo

Farejam os lobos da Lua
Sede e fome
Maldição que castiga a alma
Destruindo os sentidos
Dilacerando o corpo

Vagam os senhores do Deserto
Fumaça e borracha
Escuridão que cega vidas
Cavalaria embriagada
Andarilhos do Asfalto.

Artefato

Relógio em pedaços, tempo espalhado sobre a mesa
O tempo?
Só no relógio cinzento faz sentido
Naquelas engrenagens complicadas
Em cima do pescoço
Dos macacos

Intricado compasso, aberto sobre o alfabeto na mesa
Razão?
Só no desejo símio de falar com mortos
Naqueles rituais cheios de fumaça
Em casas fechadas
De bruxas

Caligrafia tosca, no livro na estante
Memória?
Só na cabeça hominídea que fala
Naqueles signos que olham pra trás
Em papel velho
Dos livros

Bússola enferrujada, dentro da gaveta
O destino?
Só nos pés Homo sapiens
Naquelas milhas que ficaram na lembrança
Em trilhas longínquas
Do passado


Isso aí foi escrito em tempo recorde (que não foi registrado), só pra ver se rolava.

A Procissão da Dor

Atenção: desaconselhável para pessoas demasiadamente sensíveis.

Na Morte o prodígio encerrou a canção
Interrompeu num grito, fechando alma e portas
Zumbis de olhos atentos, esperavam
Serena, a canção encerrada se arrastou
Por entre vãos e rachaduras, carne e ossos

"O espetáculo é a mácula do puro", bradou
Veneno e sangue, ela urrava
E os mortos-vivos, sem ação
Pulsavam pútridos podridão adentro
O martírio-canção foi visto saindo
Pela porta escancarada, olhos e bocas

Na Dor a orquestra esfolou vivo o requiem
Quebrou notas que fingiam ser felizes
Filho morto da manhã repugnante
Nascia cego para o fim, gritando
A marcha dos sem-vida seguiu rumo abaixo
Para o rio de fogo do Inferno, vísceras e tripas

"O horror é a delícia da alma", ouviu-se
Saliva escorria por entre os lábios desfeitos
A aurora triste e fria, na noite mergulhava
Mutilando tudo o que um dia foi bom
Rosnando como cães insanos, marchavam
Para a procissão da dor, pele e carne


Em poças coaguladas onde se via o Fim
O tremor de pés mortos
Enfim
Se desfez