8.11.08

A Procissão da Dor

Atenção: desaconselhável para pessoas demasiadamente sensíveis.

Na Morte o prodígio encerrou a canção
Interrompeu num grito, fechando alma e portas
Zumbis de olhos atentos, esperavam
Serena, a canção encerrada se arrastou
Por entre vãos e rachaduras, carne e ossos

"O espetáculo é a mácula do puro", bradou
Veneno e sangue, ela urrava
E os mortos-vivos, sem ação
Pulsavam pútridos podridão adentro
O martírio-canção foi visto saindo
Pela porta escancarada, olhos e bocas

Na Dor a orquestra esfolou vivo o requiem
Quebrou notas que fingiam ser felizes
Filho morto da manhã repugnante
Nascia cego para o fim, gritando
A marcha dos sem-vida seguiu rumo abaixo
Para o rio de fogo do Inferno, vísceras e tripas

"O horror é a delícia da alma", ouviu-se
Saliva escorria por entre os lábios desfeitos
A aurora triste e fria, na noite mergulhava
Mutilando tudo o que um dia foi bom
Rosnando como cães insanos, marchavam
Para a procissão da dor, pele e carne


Em poças coaguladas onde se via o Fim
O tremor de pés mortos
Enfim
Se desfez

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