15.3.09

Nem Nunca Nem Não

Nunca sentir tudo aquilo denovo
Nunca abrir-se completamente
Nunca se expor
Não se deixar levar por impulso
Não corromper o que há de bom
Não fazer parte dele
Nunca construir sem antes sentir
Nunca depredar o que quer que no sangue corra
Nunca traçar um caminho distante

Nunca parar diante do fim
Nunca procurar nada no depois
Nunca fingir ser o que é a mente
Não permitir vulgaridades a mais
Não chorar diante de ninguém
Não precipitar lembrança atroz
Nunca decidir profundamente
Nunca desprezar e supor o melhor
Nunca atinar delírios infantis

Nunca pensar em noites sem mim
Nunca abraçar singelo Ego cansado
Nunca cruzar destino traçado
Não contemplar beleza assim
Não temer o que vem pela frente
Não tolerar tolices pequenas
Nunca convidar a Morte pra jantar
Nunca sussurrar na virada
Nunca conjurar criaturas como essas

Nunca escrever sem água no sangue
Nunca subestimar quem quer que exista
Nunca rir do alto para crianças da Noite
Não buscar início, meio e o todo
Não negligenciar atenção a quem merece
Não demonstrar nada
Nunca sair do caminho Mais Cego
Nunca deixar o lar sem sapatos
Nunca cortar a carne em um ato

Nunca esquecer-se dos Nomes
Nunca ficar cego de fato
Nunca perder-se em caminhos
Não negar a quem se serve
Não explorar além do que há
Não cogitar hesitar na hora
Nunca lembrar-se dos podres
Nunca mencioná-los tão alto
Nunca envenenar-se de uma vez

Nunca respirar mais que o tanto
Nunca embelezar a mentira
Nunca lapidar pedras raras
Não respeitá-las ao vê-las
Não convalescer na glória
Não revidar o olhar
Nunca interromper o alheio
Nunca aspirar o pó do asfalto
Nunca perguntar pra onde se vai

Nunca embebedar-se até o ponto
Nunca elevar-se (tão) acima de si
Nunca permitir o mais fraco
Não debochar de coisas no chão
Não ousar dizer a verdade
Não aceitar memórias tão curtas
Nunca deixar de olhar de perto
Nunca ancorar-se em falsidade
Nunca carregar nos ombros

Nunca começar
Nunca terminar
Nunca fracassar
Não fugir
Não esconder-se
Não temer
Nunca duvidar
Nunca soluçar
Nunca pensar tantas vezes

[Nunca terminar incompleto]